Entrevista - Mafalda Fernandes (Violência Doméstica)

Surgiu a oportunidade de voltar a entrevistar a Mafalda Fernandes. É um gosto enorme poder tê-la de volta à diáspora. Visitem o seu blogue Mil e uma formas de amar.
1 - Boa tarde Mafalda. Como lida com os casos que se ouvem diáriamente nos meios de comunicação social?
Boa tarde Pedro. Antes de mais é um assunto muito delicado que aqui vamos tratar. Infelizmente diáriamente há milhares de casos que se ouvem na televisão, na rádio ou até mesmo nos jornais. Posso dizer-lhe que quando era mais nova ouvia falar em violência doméstica e causava-me uma certa impressão o facto da vítima não fazer nada contra o agressor, ouvimos muitas vezes "se fosse comigo, eu defendia-me", "ai se fosse comigo, nem levantava a mão" e na verdade ambos sabemos que não é bem assim. É um assunto que mexe comigo, não que se tenha passado comigo ou no meu núcleo familiar, mas já assisti e já me contaram casos. 2014 foi um ano com muitos casos, os quais vou deixar aqui alguns exemplos ( Castelo Branco registou 120 novos casos de violência doméstica, em Braga houve 13 casos fatais, no Porto houveram 2544 denuncias) e eu pergunto: Quando é que isto vai parar? Não há como lidar bem com um caso de violência, seja ela física, psicológica ou verbal. Temos sim de lutar contra isso.

2 - O que faria para acabar com a violência?
Penso que a violência nunca vai acabar enquanto houver pessoas com a mente fraca, enquanto houver ódio, ciúmes, preconceito (e aqui não falo só da violência doméstica mas de todos os outros tipos de violência) não se vai poder mudar grande coisa. Existem vários apoios à vitima, e a APAV faz um trabalho excecional, já tive oportunidade de visitar as instalações cá em Braga e ver um pouco do trabalho deles e uma pessoa sai de lá diferente. O que eu faria, era criar mais meios de divulgação que realmente há uma saída para esses casos. Por publicidade pela rua, falar mais na rádio, criar (ou alguém criar) um programa na televisão, porque há muita informação mas não é muito divulgada, infelizmente! Mas lidamos com o fator "medo" que limita as vítimas  fazer as denúncias. Enquanto houver esse medo, que é completamente normal não se vai poder ajudar tanta gente quando se gostaria. Mas graças a deus alguns desses guerreiros (homens/mulheres) ganham coragem e dizem "BASTA"! e quando isso acontece a ajuda aparece e quase sempre se pode resolver.

3 - Tem conhecimento de algum caso que tenha ocorrido perto de si?
Infelizmente tenho! Eu estava a passar um fim de semana com amigos e assisti a uma cena dessas e não foi apenas uma vez... Sem dizer nomes nem entrar em grandes pormenores posso deixar cá algumas coisas que aconteceram. Tratava-se de ciúmes totalmente doentios. Foi violência verbal e psicológica, não houve física mas os psicológicos são piores. Vi cenas assutadoras, ouvi palavras que na minha cabela não faziam sentido serem ditas, entrei em choque. Só pensei em tirar as pessoas daquele local e chamar a polícia. Foi uma experiência que não desejo a ninguém.
Infelizmente conheço vários casos e posso dizer que um deles teve sucesso e os outros continuam a tentar ser resolvidos, mas envolve muita coisa. São assuntos bastante delicados.

4 - Como deveriam ser punidos o agressores para estas situações?
Ficar na prisão e nunca mais sair parece-me adequado. Mas infelizmente o tempo não vai apagar os anos, dias ou meses em que a vitima sofreu porque isso marca e muda a vida de uma pessoa para sempre. Não sei ao certo o que faria porque como já referi é um assunto bastante delicado. Quero acreditar que a justiça mude os métodos de lidar com a situação. Nenhuma pena que os agressores sofrerem vai ser suficiente para comparar ao que a vitima chegou a sofrer, não há punição nenhuma que tire as marcas e os momentos que se passaram. Mas quero acreditar que um dia se faça realmente justiça e que a violência deixa de existir. Vamos mover as pessoas, fazer mais campanhas, gritar nas ruas, pôr papeis nas portas, qualquer coisa! Vamos acabar com o medo e ajudar quem precisa a fazer denuncia dos agressores!

5 -Na sua opinião, a lei penal atual não é justa?
Não é uma questão de ser justa. Acho que não é suficiente para o agressor! O que são 5, 10 ou 15 anos preso comparado com o sofrimento que causou na vitima?

6 - Portugal poderá ser um país diferente nos próximos tempos, no que toca à violação doméstica?

Espero bem que sim! Quero acredita que o FUTURO de Portugal mude em todos os aspetos.


Muito obrigado pela entrevista! Partilhamos do mesmo sentimento. Tristeza por estas situações que ocorrem à nossa frente!

2 comentários:

  1. O simples facto de alguns casos já estarem denunciados e as vítimas acabarem mortas (a maioria vezes por falta de proteção) demonstra bem o que ainda há para fazer em Portugal em relação à Violência Doméstica, é pena que só se faça alguma coisa quando morrem pessoas e depois esquece-se o assunto. É extremamente importante que este flagelo acabe, estamos no século XXI, não na idade da pedra.
    Mais uma vez adorei a entrevista :)

    excessodenatureza.blogspot.pt

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  2. É uma situação revoltante e não posso deixar de concordar com a opinião da Mafalda!

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